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Escola sem edifício: O primeiro Grupo Escolar Santista

Escola sem edifício: O primeiro Grupo Escolar Santista
Tomando como lema dos republicanos do progresso, os políticos da cidade demonstravam preocupação com a instrução dos cidadãos santistas. Um desses intendentes, João Baptista Martins de Menezes, ocupava também o cargo de Inspetor Literário. Menezes então ocupava duas importantes funções, como Inspetor Literato e da Instrução, nesta última,  tinha o dever de enviar ao Secretário do Interior, relatórios das atividades exercidas e informar sobre a situação da instrução na cidade. Em desses relatórios usou exemplos de pensadores europeus e também políticos norte-americanos, evidenciando a influência do modelo estrangeiro como nos mostra em um trecho de seu relatório:

A prosperidade de um paiz não depende da abundancia das suas rendas, nem da importância das suas fortalezas, nem da belleza dos seus edifícios públicos, consiste no numero dos seus cidadãos cultos, nas suas maneiras de educação, illustração e caracter. Nisso é que está o seu verdadeiro interesse, a sua principal força, o seu real poder. É pois suprema a importância da educação e da instrucção do povo, conforme esses justos conceitos de um notavel philosofo. Instrui o povo! São palavras de Washington e de Jefferson. O grande Michelet pergunta, e elle mesmo responde:
O grande campo de batalha, na opinião de Littré, éo da educação e da escola. O eminente Leibnitz dizia: . É pois incontestavelmente poderosa a influencia da educação e da instrucção no destino de um individuo o de uma nação, dependendo mesmo a felicidade ou a infelicidade daquelle e desta da bôa ou má educação e instrucção que recebem. (RELATÓRIO, 30/12/1899)

O Intendente defende a ideia republicana e positivista de associar a ordem e o progresso à capacitação intelectual do indivíduo. Em um de seus relatórios afirma que a para compreender a República deve-se mostrar seus benefícios ao povo a partir da instrução pública e diz que:

[...] perturbar a Republica é esmagar a propria conquista; mas, para o povo ser grande, para tornar-se magestoso e digno, não lhe é mister derrocar Bastilhas, cumpre-lhe sómente conquistar o livro, invadir a eschola.[...] Instruir o povo é emancipar o individuo, é preparar o municipio para maior somma de conquistas autonomicas, é plantar no paiz as verdadeiras bases de uma instituição legitimamente democratica (Relatorio, 07/01/1898).

Contudo, passados 10 anos da implantação do regime republicano, Santos ainda não contava com nenhum grupo escolar, talvez a mais importante instituição que representava a modernidade republicana, principalmente no seu carro chefe, ou seja, na educação, que tinha por slogan, erradicar o analfabetismo no país, pois afinal, só se pode construir uma forte nação republicana, com cidadãos educados, civilizados, etc. O que foi criticado pelo Inspetor Literário em relatório emitido na época:
Assim é que as escolas isoladas mantidas pelo Governo Estadual neste município não satisfazem de modo perfeito as necessidades da instrução, sendo da mais urgente conveniência que a Câmara represente ao Governo do Estado sobre a criação e a instalação de um grupo escolar nesta cidade, assim como já possuem muitas outras cidades do interior e muito inferiores a cidade de Santos, aliás, a primeira do Estado, depois da Capital, devendo mesmo a Câmara Municipal prestar a esse respeito o auxílio pecuniário que puder(apud PEREIRA, 1996, p. 111).
Esse tipo de argumento, foram os mesmos utilizados por vários municípios da cidade de São Paulo e também em outros Estados brasileiros, como por exemplo, Minas Gerais. No caso de Santos, depois de muitas reivindicações, a cidade teve a  instalação  do primeiro Grupo Escolar, que recebeu o nome de um dos políticos santistas que mais se empenhou nessa iniciativa: Dr. Cesário Bastos[1].
O Grupo Escolar Dr. Cesário Bastos foi criado em 28 de abril de 1900 e instalado a 13 de outubro em imóvel alugado pela Câmara. De propriedade de Júlio Conceição, à Rua Brás Cubas n. 80, esquina da Sete de Setembro e Senador Feijó (PEREIRA, 1996, p. 118).

De 1900 até 1915, a escola, que reuniu as existentes até então no município, exerceu suas atividades em tal espaço provisório.

Se o Grupo Escolar, enquanto prédio arquitetonicamente moderno não foi construído ao ser inaugurado o Grupo Escolar Cesário Bastos, a questão sobre estes tipos de prédios, estavam presentes nos debates sobre a criação da Escola Barnabé e na criação da Academia de Comércio de Santos, o que ajuda a compreender os embates sobre a educação deste período na cidade santista:
O edifício-escola, como se sabe, serviu de estrutura material para colocar o escudo pátrio, a bandeira nacional, as imagens e pensamentos de homens ilustres, os símbolos da religião, algumas máximas morais e higiênicas, o campanário e o relógio [...]. Isso expressa toda uma instrumentação da escola a serviço de ideais nacionais, religiosos e sociomorais (FRAGO, ESCOLANO, 1998, p.40).

Uma das principais discussões encontradas nas atas da Câmara no que diz respeito à criação da Escola Barnabé  era se o legado deixado pelo comerciante seria suficiente para construção do edifício da escola. Aliás essa era uma preocupação presente, como percebemos:
para ser creado um grupo escolar nesta cidade – era necessario que a Camara Municipal de Santos locasse um predio com as precisas condições hygienicas e pedagógicas e puzesse esse predio a disposição do Governo Estadoal para a installação e o funccionamento do grupo escolar.  Tractou portanto esta inspectorade providenciar a esse respeito, e em companhia do distincto professor Carlos de Escobar, conforme informações favoraveis que teve sobre um predio de sobrado sito a rua Xavier da Silveira, pertencente a humanitária “Associação Protectora da Infancia Desvalida” (RELATÓRIO, jan./1901)
Os embates travados sobre o tipo de construção seria a mais adequada para o novo prédio foi concretizada somente em 1902, mas não no primeiro Grupo Escolar, o Cesário Bastos, mas o Grupo Escolar “Barnabé”.



[1] Dr. José Cesário da Silva Bastos (1849 – 1937) foi chefe do diretório republicano santista, vereador na legislatura de 1892 a 1893, senador estadual entre 1894 e1897, em várias legislaturas de 1894 a 1910 e depois de 1922 a1925.

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