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A CULTURA ESCOLAR COMO OBJETO HISTÓRICO Dominique Julia

Conceito:
àConjunto de normas que definem conhecimentos a ensinar e condutas a inculcar, e um conjunto de práticas que permitem a transmissão desses conhecimentos e a incorporação desses comportamentos; normas e práticas coordenadas a finalidades que podem variar segundo às épocas( finalidades religiosas, sociopolíticas ou simplesmente de socialização).
O autor pontua a importância de levar em conta o “corpo profissional dos agentes” responsável por colocar em prática esses saberes: Os professores primários e secundários.
àSão modos de pensar e agir adquiridos por intermédio da escola.
àSão também as culturas infantis que se desenvolvem nos pátios de recreio

Historiografia:
Década de 70 – Bourdier e Passeron: Meio inventado pela burguesia para adestrar e normalizar o povo.
Década de 80 – escola reabilitada como o triunfo técnico e científico de uma imposição normativa. (Comemoração das leis de obrigatoriedade fins do século XIX) - Uso de textos normativos
Sugere o retorno ao estudo do funcionamento interno da escola.
Para isso seria interessante p estudo da história das disciplinas escolares, em oposição à História das Ideias pedagógicas. Isso porque aquela se detém sobre as práticas de ensino na sala de aula e também sobre os grandes objetivos da constituição das disciplinas.

Marco cronológico da proposta: séculos XVI e XIX:
1- século XVI vê a realização de um espaço escolar à parte, com um edifício, um mobiliário e um material específicos. (La Salle)
2- O período moderno e contemporâneo vê instaurar-se a mudança decisiva dos cursos em classes separadas.
3- É a partir do século XVI que nascem os corpos profissionais que se especializam na educação.

É no período que nascem os três elementos considerados por Julia como essenciais para a cultura escolar: ESPAÇO ESCOLAR ESPECÍFICO, CURSOS GRADUADOS EM NÍVEL E CORPO PROFISSIONAL ESPECÍFICO.

Quais as fontes de arquivo?:
Como o historiador deve analisar as fontes da cultura escolar?
Primeiramente deve estar atento para recontextualizá-la e perceber na aparente inércia as pequenas mudanças.
É difícil reconstituir, pois não deixa traços.

O autor vai questionar a dificuldade em encontrar fontes específicas preservadas. As fontes oficiais são mais fáceis, preservadas, mas a cultura escolar pressupõe outro tipo de documentos.
Capacidade do historiador “fazer flechas com qualquer madeira”
Cita exemplo do estudo das assinaturas, e ainda das autobiografias dos camponeses, que pode ser utilizada para perceber o lugar da alfabetização na sociedade.

Três eixos para o entendimento da cultura escolar:
1- Normas e finalidades da escola
2- Papel da profissionalização do trabalho do educador
3-análise dos conteúdos ensinados e práticas escolares

 Análise das normas e das finalidades que regem a escola
Estudos normativos são os mais tradicionais.
Mas devem levar de volta às práticas E nas crises é que se pode captar o funcionamento real das finalidades da escola.

Exemplo da RatioStudiorum
Textos regulamentares jesuítas: Lições e programas e funções de cada membro da Companhia.
O Colégio não é um lugar somente de aprendizagem de saberes MAS TAMBÉM de inculcação de comportamentos.
“A cultura escolar desemboca no remodelamento dos comportamentos, na profunda formação do caráter e das almas que passa por uma disciplina do corpo e por uma direção das consciências”

Projetos pedagógicos e realidade histórica
Tendência de destacar a tentação totalitária e globalizante dos textos normativos.
Mas eles contêm resistências e contradições na sua aplicação.
Exemplo da instrução primária obrigatória, ligada à criação de nova consciência cívica..
Isso não se faz pacificamente: “no momento em que uma nova diretriz redefine as finalidades atribuídas ao esforço coletivo, os antigos valores não são, no entanto, eliminados como por milagre”.
Exemplo dos professores primários da Terceira República: os professores não aplicam as diretrizes quando não lhes parecem aplicáveis.

Profissionalização dos professores
Estudar como e sobre quais critérios utilizados para o recrutamento dos professores em cada nível escolar.
Início da profissionalização coma Reforma e Concílio de Trento: necessidade de conhecer os elementos da fé.
Ordens religiosasContexto da reconquista: ensino da elite e povo. Separação entre instrução dos elementos da fé e instrução superior.
A Companhia de Jesus previa um exame geral que julgava a inteligência, perspicácia, devoção e saúde. Oratorianos exigiam qualidades físicas e inclinação para as ciências.
Na Universidade de Paris: identificar os melhores alunos e ensinar-lhes progressivamente. Exigia-se caráter, piedade e costumes.
La Salle: Instituto de Leigos que se excluem, por vocação, da cultura das elites para se consagrarem às escolas de caridade destinadas aos mais pobres.
Países Luteranos: Os Estados devem criar e manter as escolas. Controle das escolas e mestres pelas autoridades laicas – perfil profissional.
SEGUNDA ETAPA DA PROFISSIONALIZAÇÃO:
Os Estados substituem as Igrejas – supressão da Companhia de Jesus.
Passagem de uma seleção discricionária para o exame e concurso à base mínima de uma cultura profissional a se possuir.
“A cultura escolar é uma cultura conforme, e seria necessário definir, a cada período, os limites que traçam a fronteira do possível e do impossível”
Oposição entre duas culturas: Primária e Secundária

Conteúdos ensinados e práticas escolares
Disciplinas escolares: inseparáveis das finalidades educativas, e constituem um conjunto complexo que não se reduz aos ensinos explícitos.
A aparente inércia do sistema pode mascarar as finalidades erais das disciplinas.
Os professores podem questionar a natureza de seu ensino.
Fazer um inventário destas práticas pode permitir compreender as modificações insensíveis.
“O Manual escolar não é nada sem o uso que dele for feito”. Importância dos estudo das práticas dos professores para compreender a cultura escolar.

CONCLUSÃO
Termina dizendo que sua fala apresentou três lacunas:
1- Inculcação do Habitus tal como foi operada no espaço escolar; Os professores não conhecem tudo o que se passa nos pátios. Cultura de resistência ao que quer que seja inculcado.
2- Transferências culturais que foram operadas da escola em direção à sociedade e vice-versa (Exemplo das aprendizagens comerciais das lojas foram escolarizadas?)

3- Quais os poderes reais da escola hoje? Transmissão, numa sociedade que não possiu nem religião nem “religião civil” comum.

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