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GRUPOS, IDÉIAS E MILITÂNCIA – PARTE 2 - EDUCAÇÃO

Podemos destacar a atuação de elementos desse grupo principalmente com relação ao saneamento e com a educação, pois eram esses os dois principais problemas da cidade no período.
A preocupação com a instrução foi característica dos primeiros republicanos, especialmente dos positivistas. Isso porque a participação na política era restrita aos alfabetizados, pois a vida em sociedade era destinada aqueles instruídos para tanto. É o que podemos depreender por exemplo:
“Instruir o povo é prevenir a ochlocracia, é virilisar o espírito popular, é avigorar a consciência pública.
A república só poderá ser comprehendida, só poderá produzir os seus verdadeiros benefícios, quando o povo pela instrução, se capacitar de que agitar, perturbar a Republica é esmagar a própria conquista, masm, para o povo ser grande, para toprnar-se magestoso e digno, não lhe é mister derrocar Bastilhas, cumpre-lhe somente conquistar o livro, invadir a eschola. (RELATÓRIO de 1898 p. 26)
A influência do positivismo na preocupação educacional pode ser percebida ainda na indicação de 27 de agosto de 1891, que pede a criação de uma Biblioteca Pública, que homenagearia Silva Jardim, conhecido positivista, além disso: “a esta biblioteca poderá ser adicionada os cento e cinqüenta volumes recomendados por Augusto Comte”(Ata da Câmara Municipal de 1892 p. 272).
Manuel Maria Tourinho, por exemplo, foi Inspetor Literário por diversos anos, contribuindo para o desenvolvimento da instrução pública em Santos, com relatórios bastante críticos.
Vicente de Carvalho, quando Secretário de Estado dos Negócios do Interior, publicou a Lei 88 8 de setembro de 1892, reformando o ensino paulista. Esta lei dividiu o ensino em três estágios: Primário, Secundário e Superior, e tornou a instrução obrigatória dos sete aos doze anos.
Outro dado a ser destacado é que Antonio Manuel Fernandes foi um dos fundadores da Escola do Povo, que funcionou em sua própria casa. Tal entidade era destinada a instrução noturna, principalmente de trabalhadores, tanto que nas suas dependências foi fundada em 1879 a Sociedade Humanitária dos Empregados do Comércio. Além disso, ele foi autor de diversas obras entre romances e trabalhos de história como “Pelo Litoral” no qual escreveu sobre a história de São Sebastião e Vila Bella.
Alberto Veiga foi outro que também contribuiu para a educação santista com
“vários editoriais e artigos referentes à instrução pública englobando preocupação com os temas da escola Normal, ensino profissional e primário, com estatísticas do município e do Estado”. (PRATES, 2008, p. 7)
Com relação ao combate às epidemias e preocupações com o sanitarismo, pode-se destacar a atuação de Vicente de Carvalho, a nível estadual, criou o Instituto Pasteur (Instituto Bacteriológico de São Paulo) para combater as epidemias no Estado e trouxe o sanitarista A. Fuertes para trabalhar no saneamento de Santos.
Em Santos a Junta Municipal de higiene foi criada em 1890, formada por médicos e engenheiros. Era presidida por Sóter de Araujo, ao lado de Silvério Fontes, Manuel Maria Tourinho e outros. Tinha como objetivo solucionar os problemas sanitários da cidade (RELATÓRIO de 1891, p, 38).
Em seu primeiro ano de existência esse grupo apontou o grande número de moléstias que afligiam a cidade e justificou que não fez mais por não dispor de dinheiro suficiente para tanto. Neste mesmo relatório a Junta fez uma análise dos problemas enfrentados[1] e elabora um plano de ações.
Esse Plano Geral previa como soluções: Organização do serviço médico Municipal; Construção de um hospital de isolamento; Condenação dos Cortiços; Construção de alojamento para os imigrantes e limpeza das praias, todos dados técnicos demonstram uma preocupação com os novos problemas enfrentados pela cidade com as transformações que vinha enfrentando.
A atuação política nos primeiros anos da República também pode dar o tom dos ideais dos constituintes santistas. Muitos deles, republicanos históricos, que participaram ativamente da propaganda republicana, tiveram participação política.
Vicente de Carvalho, por exemplo, foi Secretário dos Negócios do Interior no Governo do Estado de São Paulo, e Deputado Constituinte da Constituição Estadual. Na imprensa o Poeta atacou Américo Brasiliense, então Presidente do Estado, principalmente na defesa da liberdade das instituições republicanas, quando o Congresso é dissolvido. Aliás, este é o motivo pelo qual em  protesto, renunciou de seu mandato parlamentar.
Também Alberto Veiga, militou ativamente na política: além de sua atuação como vereador em Santos, foi deputado constituinte no Rio de Janeiro, antes de vir para a cidade.
Com tudo isso se pode perceber uma ligação do grupo da Constituição Municipal com as idéias republicanas mais radicais, especialmente a linha liderada nacionalmente por Silva Jardim, no que se refere à participação popular no regime republicano.
É de se notar que Vicente de Carvalho teve escritório jurídico em Santos em sociedade com Martim Francisco e com o próprio Silva Jardim.
Como indícios da ligação do grupo da Constituição com a linha de participação popular pode-se citar o caso de Antonio Manuel Fernandes, que como já mencionado, manteve a Escola do Povo, local que abrigou a Sociedade Humanitária, voltada para atender os trabalhadores no comércio; sua atuação direta na mobilização popular para revolta do Quebra Lampiões (1884), na qual a população respondeu violentamente contra os abusos da companhia responsável pelo fornecimento e água na cidade; e ainda o próprio nome do jornal de Olímpio Lima: “Tribuna do Povo” o que mostra a ligação com as camadas populares.



[1] Entre as causas dos problemas destaca a entrada de grande número de imigrantes pelo porto ó em 1890 ingressaram pelo porto santista 27883 imigrantes. (Relatório de 1891)

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