No período que seguiu a proclamação da República, o Presidente do Estado
encarregou-se[1]
de nomear os intendentes que governariam o município até que as eleições fossem
realizadas. Fez as tais nomeações a partir de pessoas de seu grupo de
interesses, com elementos que apoiavam a corrente de Bernardino de Campos.
Proclamada a República, a 15 de novembro de 1889, Santos foi
governada por uma junta governativa provisória, composta dos seguintes
cidadãos: Antônio Lacerda Franco, Antônio Carlos da Silva Telles, Martim
Francisco Ribeiro de Andrada, José Azurém Costa Júnior, Ernesto Cândido Gomes,
Leão Luís Ribeiro, Walter Wright, Guilherme José Alves Souto, Henrique
Porchat e Manoel Franco de Araújo Vianna.
Como os interesses dos que compunham a junta governativa
provisória nem sempre eram compatíveis com os interesses dos santistas,
empresário e políticos da cidade, este foi um período de muita instabilidade,
havendo muitas exonerações e nomeações[2].
Ainda que de difícil definição, tendo
em vista os diversos interesses e ideias que circulavam na época, podemos
dividir os políticos santistas do início do período Republicano em dois grupos,
sendo um deles ligados ao Club Nacional e o outro ligado ao Centro Republicano[3].
Centro Republicano - Henrique Porchat,
Vicente de Carvalho, Américo Martins dos Santos, Ricardo Pinto de Oliveira,
Guilherme Souto, José Cesário da Silva Bastos, Augusto Teixeira de Carvalho,
José Moreira de Sampaio, Martim Francisco Filho, Manoel Maria Tourinho, Joaquim
Montenegro, José Domingues Martins, Narciso de Andrade, Antônio Bento de
Amorim, Luís Ayres da Gama Bastos, Augusto Mesquita, Antonio Augusto do Couto,
Guilherme de Mello, Pedro de Mello, Cândido de Carvalho, Benedicto Pinheiro,
Alexandre Mello, Francisco Antonio de Sousa Júnior, João Vicente Marcondes,
Virgílio Gomes Marcondes, Gabriel Soares, Leonardo de Castro, Elisiário de
Arruda Castanho e outros.
Clube Nacional - Antônio de Lacerda Franco, Antônio
Carlos da Silva Telles, Manoel Franco de Araújo Vianna, Carvalho de Mendonça, Cel.
Gil Alves de Araújo, Martinho Leal Ferreira, Theóphilo de Arruda Mendes,
Ernesto Cândido Gomes, Antônio Augusto Bastos, João Guerra, Theodorico de
Almeida, Paulino Ratto, Frederico Junqueira, Dr. Segadas Vianna, Jacob Itapura
de Miranda, Raymundo Sóter de Araújo, Antônio Iguatemy
Martins, Francisco Ribeiro Ratto, Francisco Cruz, José Bernardo de Araújo,
Antônio José Malheiros Júnior, José Bonifácio de Andrada Netto, Heitor Peixoto,
Ascendino da Natividade Moutinho, Alberto Costa, Eduardo Weismann e outros[4].
O Centro Republicano fundou o Diário da Manhã, sob a
direção de Vicente de Carvalho, que escolheu para seus redatores auxiliares
Cândido de Carvalho, Alberto Sousa, Júlio Riedel e para administrador ou
gerente do jornal, Miguel Ribeiro, que viera d'O Estado de São Paulo (antiga Província
de São Paulo). Esse jornal serviu como órgão de propaganda e defesa dos ideais
de seu grupo político.
Por sua vez, os integrantes do Clube Nacional resolveram fundar
também um órgão próprio, O Nacional, por aquisição de todo o material
do Correio de Santos, órgão popular mantido pelo Grêmio Português,
de cuja direção tomou conta Horácio de Carvalho, auxiliado pelo Dr. Estácio
Corrêa e outros elementos vindos de São Paulo.
A atuação
dos diferentes grupos de intendentes santistas, especialmente os promulgadores
da Constituição Municipal, eram
pautadas por de uma visão de mundo própria e de um
projeto de cidade, de cidadão e de educação, especialmente relativas a ideia de autonomia e liberdade:
Há cinco anos, o
dia de hoje era recebido com a mais franca alegria, com o mais profundo
contentamento, com a maior expressão de júbilo pela grande maioria da nação. Um
frêmito de entusiasmo passou por todo o Brasil e um futuro risonho, de prosperidade, de Ordem e Progresso,
delineou-se no horizonte da Pátria. Passam-se
os dias e com eles, ai de nós! As dúvidas, as incertezas, começam a invadir
nossa alma. O nosso espírito conturba-se e vê o desaparecimento de todas as
liberdades, qual enorme ciclone, depois da bonança, sacode convulsivamente a
sociedade, levanta os ódios e atira irmãos contra irmãos. Troa o canhão,
espadana o sangue, o riso é substituído pelo gemido (grifos nossos). (Ata da
Intendência Municipal de 15/11/1894)
Conflitos resultantes das
acomodações das forças políticas naquele início de República e do desgaste dos
ideais resultantes de seu confronto com a prática.
[1]O
Governo do Estado adotou o critério de consultas prévias aos dirigentes
republicanos de cada localidade. De Santos subiram duas listas para apreciação
do Governo, refletindo a opinião de cada um dos grupos políticos formados pela
cisão anterior
[2]Segundo as atas do período,
somente no mês de dezembro de 1891 foram cerca de 12 exonerações.
[3]Estes
grupos haviam se dividido desde 1890, em função do apoio do Partido Republicano
às candidaturas de Júlio de Mesquita e Bernardino de Campos, apoiados
respectivamente pelo Centro Republicano e pelo Club Nacional.
[4] Algumas das informações foram conseguidas
no jornal A Tribuna, edição especial de 26 de
janeiro de 1939, comemorativa do centenário da elevação de Santos à categoria
de cidade.
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