Para falarmos nas vestes das camadas
populares no período do Brasil Imperial, devemos levar em conta alguns pontos:
O Clima, a situação financeira e a moda, ou tentativa de segui-la, e a variedade de tipos que compunham, e ainda
compõe a população brasileira.
O calor beirava os 40 graus. As ruas
eram ‘‘pavimentadas’’ com lama e pedregulho. De um lado, as índias passeavam
com suas ‘‘vergonhas’’ à mostra. Do outro, senhoras de fino trato desfilavam
com seus pesadíssimos e acalorados vestidos europeus.
A história do vestuário nacional
confunde-se com a própria memória da vida privada do país. Afinal, as roupas
fazem parte dos costumes e da cultura, e o estilo é o reflexo de uma
época.
“Um
contraste não menos nítido que o da oposição dos sexos é o fornecido pela
oposição das classes numa determinada sociedade, a qual tende a se revelar
através de certos sinais exteriores como a vestimenta, as maneiras, a
linguagem, chegando mesmo a refletir-se no modo pelo qual as pessoas se distribuem no
espaço geográfico (SOUZA, 1987 p. 111)”
Uma análise do vestuário e da história
da moda no país revela aspectos interessantes sobre o cotidiano. Enquanto
algumas peças parecem incrivelmente atuais, outras indicam hábitos comuns
durante épocas, mas que atualmente provocam estranheza. Mas principalmente a
roupa é um modo de caracterizar uma camada social e identificar o local do
indivíduo na esrutura social
“Uma
sociedade desse tipo, em que as relações sociais estão sujeitas a freqüentes
mudanças no tempo e no espaço; em que predomina uma variedade muito grande de
critérios de julgamento; em que as demarcações sociais não são intransponíveis
e a comunicação entre os grupos é uma regra – uma sociedade desse tipo, em que
a classe é uma coisa relativa e os critérios que lançamos mão para julgá-la são
precários, favorece fatalmente o desenvolvimento daquilo que Tarde chamou o
“espírito de moda”.
(SOUZA, 1987 p. 123)
Geralmente, quando estavam fora de
casa e iam à Igreja, as mulheres trajavam-se de vestido preto de seda, além de
longo véu com rendas. Quando na época do frio o véu de renda era substituído
por uma peça de casimira. Há aquelas que preferem, no dia a dia, no interior de
suas residências, em passeis ou viagens, usar um “fato comprido, barrado de
veludo, renda cor de ouro, fustão ou pelúcia, segundo a classe social ou as
posses de cada qual” sempre acompanhado de chapéu redondo. (HOLLANDA).
Os pobres vestiam-se de maneira muito
parecida: calça e camisa de algodão ou outro tecido barato. Não é raro vermos
escravos reproduzidos com roupas gastas e até rasgadas.
Os escravos não podiam calçarem-se,
sendo o uso de sapatos um privilégio de pessoas livres. No entanto, geralmente
os pobres não utilizavam-se de sapatos, artigo muito caro na época.
Podemos ver nas pinturas de Debret as
caracteristicas das vestes utilizadas pela população mais pobre. Os escravos
estão sempre com roupas de tecido simples e rude, geralmente cor de algodão ou
de listras. Comumente são retratados em camisa.
As mulheres escravas usavam turbantes
de tipo africano e, por vezes, tecidos coloridos em volta do dorso, à moda
afro.
AS mucamas, ou escravas domésticas,
bem como os escravos que serviam nas residências dos senhores vestiam-se de
maneira mais fina, geralmente com roupas já não mais utilizadas pelas senhoras,
mas sempre sem calçado, distintivo da liberdade.
Todos os brasileiros, nos relata
Debret, principalmente as classes populares, tinham por hábito enfeitar os
cabelos com flores naturais. Os mais ricos ornamentavam-se com cravos ou rosas,
utilizados comko símbolo de galanteio. Se colocado por um homem no cabelo de
uma dama, significa mostra de fidelidade. As pessoas mais humildes também
utilizavam-se de flores, mas das mais comuns como as flores do campo.
Podemos perceber ao analisar fotos ou
gravuras do período que as roupas, mesmo as da classe mais alta, tem
características mais simples, com menos quantidade de bordados e outras
filigranas, O homem utiliza terno escuro, colete preto, camisa branca. A mulher
veste-se com vestidos com poucos adereços, e as meninas usam laços de fitas,
meias três quartos, botinas e vestidos mais claros e simples.
Os rebuços, capas que cobriam todo o
corpo, inclusive o rosto eram mais utilizados no interior, e menos na Capital.
Sempre foram muito procurados pela população, que insistia em o utilizar, mesmo
depois de sucessivas proibições. Essas proibições chegaram a ter por pena multa
em favor dos lázaros, no caso de o autor do ilícito fosse pessoa livre, e no
caso de escravo, castigo público de cinqüenta palmatoadas, conforme nos ensina
Sérgio Buarque de Holanda. Ele diz que principalmente nas cidades do interior
era mais comum esse tipo de veste, sendo a proibição muitas das vezes
descumprida, chegando por outro lado, em outras cidades a ser proibido
inclusive “xales e matilhas”. Ocorre que a intenção de tal norma era que as
mulheres “não saíssem de cara tapado e irreconhecível à maneira de mouras”.
Podemos perceber como as roupas da
camadas populares eram evidentemente diferentes das utilizadas pela classe mais
abastada. Ainda que procurassem imitar a modo da elite, era flagrante o
desnível social.
A procura em imitar os padrões das
classes mais altas é a procura em seguir os padrões sociis determinados por
esse segmento da sociedade no esquema de vida da comunidade. Souza nos diz que neste
impulso de identificação das classes a vestimenta talvez seja o sinal mais
eficaz, de influencia direta sobre o próximo: “A vantagem que o gasto com a roupa apresenta sobre os outros métodos é
que a vestimenta está sempre em evidência e oferece, à primeira vista, a todos
os observadores, uma indicação de nosso padrão pecuniário (SOUZA p. 123/124).
FONTES
E BIBLIOGRAFIA
DEBRET, João Batista. J. B. Debret
e a viagem pitoresca e histórica ao Brasil. Rio de Janeiro: Tecnoprint,
1968. 317p (Coleção Brasileira de Ouro).
CARDOSO, Fernando Henrique; HOLANDA,
Sergio Buarque de; CAMPOS, Pedro Moacyr. O
Brasil monárquico, volume 2: dispersão e unidade. 4. ed. São Paulo: Difel,
1978. 549 p. (História geral da civilização brasileira ;t.II, v.2).
SOUZA, Gilda de Mello e. O espírito
das roupas: a moda no século dezenove. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
RUGENDAS, João Mauricio. Viagem
pitoresca através do Brasil. 3.ed. São Paulo: Martins, 1941. 205p.
como é o nome das pinturas ?
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