A Filosofia para a Sala-de-Aula
G.K.
Chesterton
Publicado originalmente no Daily News, 22 de junho de 1907
Tradução de Gabriele Greggersen
Retirado do site: Hottopos.com
Publicado originalmente no Daily News, 22 de junho de 1907
Tradução de Gabriele Greggersen
Retirado do site: Hottopos.com
Este é o be-a-bá do raciocínio lógico.
E tem esta vantagem especial de que pode ser ensinado na escola, como qualquer
outro be-a-bá. Não dar início a qualquer discussão sem antes declarar
abertamente os postulados de cada um, é uma regra a ser ensinada tanto na
filosofia, quanto na matemática de Euclides, ou em qualquer aula comum, usando
giz e lousa. E penso que esse princípio poderia ser ensinado de forma simples e
racional até mesmo ao jovem, antes de aventurar-se pelo mundo, à mercê da
"lógica" e da filosofia imposta pela mídia.
Muitas das desorientações e dúvidas no
campo religioso, surgem pelo fato de os céticos de hoje começarem sempre,
falando sobre tudo aquilo em que eles não acreditam. Mas, mesmo de um cético, o
que queremos saber primeiro é em que ele realmente acredita. Antes de começar a
discutir, é preciso saber o que é que não se discute. Essa confusão aumenta
infinitamente pelo fato de que todos os céticos de nosso tempo são céticos em
diferentes graus dessa dissolução que é o ceticismo.
Agora, nós temos (espero), uma vantagem
sobre todos esses novos filósofos sabidos: mantemo-nos em sã consciência.
Acreditamos que existe, de fato, a catedral de São Paulo; e grande parte de nós
acredita em São Paulo. É preciso deixar bem claro que acreditamos em muitas
coisas que, embora façam parte de nossa existência, não podem ser demonstradas.
Nem é preciso meter religião na história. Diria até que todos os homens de bom
senso, acreditam firme e invariavelmente em umas quantas coisas que não foram
provadas e que nem sequer podem ser provadas.
De forma resumida, são elas:
(1) todo ser humano em sã consciência
acredita que o mundo e as pessoas ao redor dele são reais e não um produto da
sua imaginação ou de um sonho. Ninguém começa a incendiar Londres, se está
convencido de que seu criado logo o acordará para o café da manhã. Mas não
temos provas, em nenhum momento, de que tudo não passa de um sonho. Que algo
exista além de mim é uma afirmação que não está comprovada (nem se pode
comprovar...).
(2) Todo homem em sã consciência,
acredita não somente que este mundo existe, mas também que ele tem importância.
Todo homem acredita que há, em nós, um tipo de obrigação de nos interessarmos
por esta visão da vida. Não concordaria com alguém que dissesse, "Eu não
escolhi esta farsa e ela me aborrece. Fiquei sabendo que uma senhora idosa está
sendo assassinada no andar de baixo, mas eu vou é dormir ". O fato de que
há um dever de melhorar coisas não feitas por nós é algo que não foi provado e
não se pode provar.
(3) Todos os homens em sã consciência
acreditam que existe uma certa coisa chamada eu, self ou ego e
que é contínua. Não há nenhum centímetro de meu cérebro igual ao que era há dez
anos atrás. Mas se eu salvei a vida de um homem numa batalha há dez anos atrás,
fico orgulhoso; se me acovardei, sinto-me envergonhado. A existência desse
"eu" axial nunca foi comprovada e não pode ser comprovada. Trata-se
de uma questão mais do que "improvável" e que é muito debatida entre
os metafísicos.
(4) Finalmente, a maioria dos homens em
sã consciência acredita, e todos o admitem na prática, que têm um poder de
escolha e responsabilidade por suas ações.
Seguramente é possível elaborar algumas
afirmações simples como as acima, para que as pessoas possam saber a que se
ater. E se os jovens do futuro não vão ter formação em religião, pode-se-lhes
ensinar, pelo menos, de forma clara e firme, um pouco de bom senso, três ou
quatro certezas do pensamento humano livre.
1. "- Lógica, disse o professor
para si mesmo. – Por que não ensinam mais lógica nas escolas" (C.S.
Lewis, O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa. São Paulo: Martins
Fontes, 1997,p. 50) e, no final da história, o professor comenta novamente,
agora em alto e bom tom:
" - Céus! O que é que estão
ensinando às crianças na escola?" (Idem, p. 180).
Fonte: Sociedade Chesterton Brasil
Comentários
Postar um comentário