A Teoria
do Currículo é um campo relativamente novo na Pedagogia, tendo surgido nos
Estados Unidos na década de 1920, com a proposta de discutir objetivos,
procedimentos e métodos, de forma a racionalizar e organizar o ensino. Após esses
estudos surgiram outros com críticas e novas visões e propostas para a
educação. Mas apesar dessa discussão enquanto campo da pedagogia ter iniciado
no século XX, questões relacionadas ao currículo fazem parte do próprio
processo educativo.
Muitos autores
do passado pensaram na educação em diferentes contextos históricos e trouxeram
considerações a respeito do currículo, como conteúdos e princípios a serem
ensinados. As considerações sobre o tema tinham um caráter amplo de filosofia
da Educação ou traziam sugestões de obras e temas que deveriam ser ensinados.
Podemos encontrar apontamentos e reflexões sobre o que ensinar, por exemplo, em
Quintiliano e na República de Platão.
Essas
discussões a respeito do que e como ensinar sempre fizeram parte do processo
educativo, inclusive do que se conhece por Educação Clássica. (A Educação Clássica
tem origem na Grécia Antiga e se desenvolveu por todo o Império Romano e, após
o fim deste, pelo período medieval e moderno.)
Neste endereço você encontrará textos sobre a Educação Clássica, seus
conteúdos e objetivos de ensino. https://rafaelfalcon.com.br/tag/educacao-classica/)
A
finalidade da educação grega era a Paideia. Este conceito de homem ideal para a
sociedade da época, trazia a proposta de uma vida em sociedade a partir de
regras de conduta e desenvolvimento de virtudes, que iam da modéstia à civilidade.
Essa moral consistia na conquista de virtudes físicas, morais e sociais que
formariam um cidadão pronto para defender sua pólis.
A
essência da educação na Antiguidade consistia na leitura dos filósofos gregos e
dos autores clássicos como Homero, por exemplo. O método consistia basicamente
na leitura e memorização dos principais textos com o fim de recitá-los e
extrair deles ensinamentos morais. Depois vinha o desenvolvimento da escrita e
da argumentação voltada a discursos públicos.
Como
exemplo de ideal, podemos falar do esquema proposto por Platão, que apresentava
um currículo que iniciava com ginástica, música e letras, especialmente
gramática. Depois, o aluno passaria a estudar a ciência, entendida como
aritmética, geometria, astronomia e teoria musical. O último estágio de formação
só se dava depois de todo esse processo com o estudo da filosofia, a preparação
para a vida prática do cidadão.
A
educação grega tinha por objetivo desenvolver as virtudes necessárias para o
desenvolvimento da inteligência no máximo de suas potencialidades. Para atingir
esse fim se organizava em estágios. Na primeira etapa buscava-se isolar a
criança das más influências e expô-las aos maiores exemplos de beleza, bondade
e virtude. Na etapa seguinte iniciava-se a educação moral, não só a educação prática,
mas acompanhada de uma doutrina ética. Dominar as paixões e sensibilizar a
natureza animal do Homem por uma Verdade Moral. Por isso a leitura e
memorização de fábulas, histórias épicas, mitos, por exemplo. Na etapa seguinte,
entrava o estudo do Trivium e da geometria. O primeiro buscava o domínio da
linguagem, a facilidade no expressar e no entender, ferramentas para começar o
trabalho da inteligência. O segundo para forçar a abstração da mente. Ambos
para preparar o jovem para a última etapa, o estudo da filosofia. Aqui tinha
como objetivo aprender com metodologia a descobrir a essência de todas as
coisas; interrelacionar essas coisas e compreender a lógica por trás do
Universo.
Mas esse
ideal de formação não era o único. Na época de Sócrates surgiram os sofistas,
que entendiam o mundo como uma ilusão, e por meio da linguagem queriam provar
coisas impossíveis. Isso agradou os atenienses por causa dos discursos próprios
do regime da Democracia. Assim surgiram os primeiros cursos de retórica.
Essas
escolas ofereciam um ensino base para o retórico no qual não se buscava a
contemplação da Verdade, mas o domínio da linguagem e a educação geral (boas
maneiras e virtudes físicas). Esse modelo teve grande sucesso. Quando os
romanos dominaram a Grécia aproveitaram esse conhecimento e espalharam por todo
o Império.
No
início da Era Cristã, esses dois modelos influenciaram as comunidades, pois o
ideal não é muito distante da concepção cristã de educação. Por isso, foi
adotado em partes e adaptado às realidades das comunidades cristãs, com a
inclusão de estudos bíblicos e a proposta da aquisição das virtudes espirituais.
O saber antigo foi preservado e transmitidos no
período medieval por meio das cópias de manuscritos e nas escolas anexas aos
mosteiros e catedrais.
As chamadas Reformas Carolíngias remodelaram os
conhecimentos da Antiguidade organizando as chamadas Sete Artes Liberais como
currículo escolar e estrutura básica da educação nos períodos posteriores tanto
na Idade Média quanto no período da Renascença. (As Sete artes Liberais dividiam-se em
Trivium e do Quadrivium, e compõem o conjunto de disciplinas e conteúdos da
Educação Clássica . Na primeira parte de sua formação o aluno aprendia o
Trivium: gramática, retórica e lógica, e na segunda fase, o Quadrivium,
estudava geometria, aritmética, música e astronomia. Para saber mais sobre a
educação na Idade Média veja os artigos disponíveis em: https://www.ricardocosta.com/buscar?search_api_views_fulltext=artes+liberais)
Em resumo, podemos dizer que, os objetivos
educacionais no passado organizavam os conteúdos a serem transmitidos a partir
de concepções de homem próprias. Na Grécia pretendia-se formar para o
conhecimento ou para a cidadania; sob o Império Romano buscava-se formar o
cidadão ou funcionário do Império; na Idade Média a educação tinha concepções
ascéticas e na Renascença intenções liberais e humanas.
No Brasil, essas concepções chegaram pelo filtro dos
Jesuítas, que dominaram a educação na maior parte da nossa História. A
pedagogia jesuíta é iluminada pelo ideal de levar o homem ao conhecimento e à
salvação de sua alma.
A educação Jesuíta, fortemente marcada pelo
Humanismo e pela religião, pretendia o desenvolvimento humano das qualidades do
espírito e de caráter, preparando os alunos para as responsabilidades de vida
em sociedade: “a realização plena da natureza humana elevada à ordem
sobrenatural de acordo com os desígnios divinos – eis em toda a sua amplitude o
ideal educativo que norteia as atividades pedagógicas da Companhia” (FRANCA,
2019 p. 74)
Para atingir seus objetivos os jesuítas contavam com
a Ratio Studiorum, um Plano de Estudos da Companhia de Jesus, que
pautava o ensino nas numerosas escolas desta organização em todo o mundo. Esse
currículo trazia desde a organização administrativa da escola, passando por
normas de conduta, chegando aos conteúdos e métodos pedagógicos. Esse modelo de
uma forma ou outra influenciou a educação brasileira, sendo adaptado às circunstâncias
e realidades de cada localidade mesmo despois da expulsão dos Jesuítas do
Brasil.
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