República foi fruto
das transformações culturais que ocorreram desde 1870. Diversos são os fatores
que contribuem para a modificação das mentalidades: a abolição da escravatura;
a expansão da produção e exportação do café; o desenvolvimento de uma classe
média urbana formada pela burguesia mercantil e por profissionais liberais;
descontentamento dos militares; influência do liberalismo, jacobinismo e
principalmente positivismo.
Assim, diferentes eram as representações de República no
período. O termo representações é utilizado na concepção de Roger Chartier,
segundo o qual:
as representações são entendidas
como classificações e divisões que organizam a apreensão do mundo social como
categorias de percepção do real. As representações são variáveis segundo as
disposições dos grupos ou classes sociais; aspiram à universalidade, mas são
sempre determinadas pelos interesses dos grupos que as formam. (1990, p. 17)
Eram diversas as ideias republicanas que influenciaram os
intelectuais da época, geralmente importadas, misturadas e ressignificadas:
A República não produziu correntes ideológicas próprias ou
novas visões estéticas. Mas por um momento, houve um abrir de janelas, por onde
circularam mais livremente ideias que antes se continham no recatado mundo
imperial. Criou-se um ambiente que Evaristo de Moraes chamou com felicidade de
porre ideológico, e que poderíamos também chamar, sob a inspiração de Sérgio
Porto, de maxixe do republicano doido. Nesse porre, ou nesse maxixe,
misturavam-se, sem muita preocupação lógica ou substantiva, várias vertentes do
pensamento europeu. (CARVALHO, 1987, p. 24)
Os republicanos se inspiravam principalmente nos modelos da
França e dos Estados Unidos, cada qual com concepções diferentes de liberdade,
cidadania e participação popular no governo.
O conceito de República foi aplicado a formas de governo
muito diferentes entre si como Esparta, Roma, Países Baixos e Polônia,
independente de suas diferenças, como senado vitalício, reis e nobreza
hereditária. Neste sentido República
podia significar tanto governo livre como governo da lei e governo popular
(CARVALHO, 1887, p. 18).
No período estudado as correntes republicanas principais eram
os liberais, os jacobinos e os positivistas.
Os Liberais inspiravam-se no modelo norte-americano. Eram
formados principalmente por proprietários e produtores de café, e grandes
comerciantes. Estes se interessavam pelo federalismo estadunidense, como forma
de manter o poder político. Recebiam influência do darwinismo social, adotando
principalmente as ideias de Spencer por meio de Alberto Sales. Tinham, portanto
outra concepção de liberdade:
A liberdade dos modernos [...] era a liberdade do homem
privado, a liberdade dos direitos de ir e vir, de propriedade, de opinião, de
religião (CARVALHO, 1998 p. 17).
Os Jacobinos utilizavam-se de uma ideia de liberdade mais
próxima à das antigas republicas de Atenas, Roma e Esparta. Era a liberdade de participar coletivamente
do governo, da soberania, era a liberdade de decidir na praça pública os
negócios da república: era a liberdade do homem público. (CARVALHO, 1998 p.
17). Davam principal atenção à questão da intervenção popular na vida pública.
Eram partidários da concepção jacobina os setores da
população urbana formados por profissionais liberais, pequenos proprietários e
estudantes. Para estes, que não tinham recursos econômicos para tirar vantagem
do sistema liberal, sendo por isso atraídos por ideais mais abstratos como
“liberdade, igualdade, participação”. Tinham como plano político:
Uma sociedade laica, anticlerical, sem o bacharelismo pedante
e pontificado, onde os grupos urbanos tivessem maiores oportunidades. Um Estado
republicano, nacionalista, voltado para as próprias fronteiras e conduzido por
um governo forte – eis a concepção jacobina. (QUEIROZ, 1986 pag. 127)
O Positivismo era uma terceira saída para os republicanos.
Segundo essa concepção política, e sua lei dos três estágios[1], a
monarquia seria o equivalente à segunda fase, que deveria ser substituída pela
fase positiva, e a República representava bem esse estágio.
O positivismo de Augusto Comte representa no século XIX o
sentimento da necessidade da ordem, como pulsação principal para o progresso do
homem e da sociedade. A ordem, no sentido mecânico da ausência de movimento,
definida por COMTE como “estática social”, destaca-se como a legenda desse
tempo e o fundamento da engenharia positivista, para a evolução da humanidade.
A cultura positivista baseia-se no que pode ser diretamente
observado, medido, experimentado e confirmado em termos exatos; então, qualquer
modo de pensar ou ação que foge ao padrão matemático, não passa no crivo
positivo e são tratadas como fantasias metafísicas. (PAIXÃO 2000, p. 26)
Essa corrente teve grande aceitação entre militares e
intelectuais e também parte da população, pois:
A proposta positivista de incorporação do proletariado à
sociedade moderna, de uma política social a ser implementada pelo Estado, tinha
maior credibilidade que oi apelo abstrato ao povo e abria caminho para a ideia
republicana entre o operariado (CARVALHO, 1998 p. 27)
Com essas ideias fervilhando com a instauração da república,
diferentes concepções de autonomia e cidadania, e formas de entender a
república se apresentaram.
Especialmente em Santos a propaganda republicana encontrou um
bom palco, atingindo diversas camadas da população.
[1] A lei dos três estados é a
base do positivismo. Segundo esta lei a sociedade passa por três fases:, a
teológica (fictícia), a metafísica (abstrata) e a científica (positiva).
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