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A imprensa em Santos do final do Império

Os jornais são exemplo da circulação de ideias e da formação e de auxílio na luta dos trabalhadores.
Martins (2010) aponta a presença de espanhóis a frente da redação de diferentes jornais destinados aos operários, A Terra Livre, O LibertárioO Socialista, O Grito del PuebloEl Progresso, O Jornal Operário dentre outros. Já Costa (2012) apresenta periódicos operários dirigidos por nacionais na capital federal, como A Voz do Povo (1890), O Despertar (1893), A Nova Revista (1896) eO Libealista (1899).
A imprensa tem papel fundamental na circulação de ideias. Em trabalho sobre a imprensa em Santos, Alexandre Alves analisa os jornais santistas “como instrumentos essenciais no processo de transformação da cidade, nas lutas sociais e na constituição da identidade da mais importante cidade portuária do Brasil”. (ALVES 2007 p. 39)
Santos foi uma das primeiras cidades paulistas a ter imprensa. Alves aponta que entre 1849 e 1930 a cidade contou com mais de duzentos jornais e mais de duas dezenas de revistas, o que demostra uma dinâmica própria e a grande circulação de informações e ideias. Provavelmente isso acontecia devido a sua proximidade e ligação íntima com São Paulo e por suas atividades portuárias.
Desde seu primeiro jornal, Revista Comercial de 1849, do professor alemãoGuilherme Dellius, já se discutiam a inviabilidade do trabalho escravo e a vantagem da mão-de-obra livre para a maior eficiência das atividades comerciais e portuárias.
Além das questões comerciais, a urbanização, o combate às epidemias, a luta pela abolição da escravidão e a propaganda republicana foram objetos dos mais variados títulos. Essas ideias somadas ao crescente aburguesamento da cidade e crescimento populacional, especialmente imigração, favoreceram a variedade de títulos. “A imprensa tende a se segmentar e se partidarizar, refletindo as lutas políticas e ideológicas do período” (ALVES p. 46).
Existiu também a Imprensa Operária, fruto da luta por melhores condições de trabalho no porto: em 1889 surgia o “primeiro núcleo socialista de que se tem notícia no Brasil” e que contava com seu jornal “A Ação Social” e depois “A Questão Social”; e também os jornais “União dos Operários” e “Operário” ligados respectivamente à União dos Operários e ao Partido Operário santistas.
As três organizações - o Centro Socialista, a União Operária e o Partido Operário - unem-se em 1896 para formar o Partido Operário Socialista, que teve duração efêmera devido à falta de base social. Benedito Ramos fundaria em 1897 o jornal A Greve e Silvério Fontes participaria da criação do diário redigido em italiano Avanti! em 1900, além de colaborar na organização do Segundo Congresso Socialista Brasileiro (1902), no qual foi criado o Partido Socialista Brasileiro. (ALVES p. 57)
A imprensa no período, mais do que noticiosa, servia para divulgação de conceitos, correntes e ideais. Entre os operários circulavam os ideias da chamada esquerda, especialmente anarquismo, comunismo e socialismo:
É o caso do socialismo reformista que tem como seus mentores os intelectuais: Silvério Fontes (médico), Carlos Escobar (professor) e Raimundo Sóter de Araújo (farmacêutico e médico), ilustrados ecléticos (positivismo evolucionista) com influencia na administração escolar e fundadores do periódico “A Questão Social” (1895) que durou dois anos divulgando ideias socialistas” (PEREIRA, 1996 p. 84)
O referido jornal “A Questão Social”, tinha como objetivo a divulgação de ideias socialistas, e fazia isso, inclusive, com textos destinados especificamente a imigrantes, mesmo na língua estrangeira, como o italiano. Foi fundado por três “intelectuais” militantes, criadores do Centro Socialista de Santos: Silvério Fontes, Carlos Escobar e Raimundo Sóter de Araújo[1].
Nesse periódico podemos perceber sinais e indícios que dão luz a questão da formação informal e principalmente na influencia de brasileiros sobre o pensamento dos trabalhadores e demais imigrantes.
Havia a preocupação com a explicação de conceitos, traduções de obras estrangeiras, da divulgação do pensamento de autores do socialismo, e também a formação e oferecimento de uma biblioteca.
Assim, o jornal “A Questão Social”, entre outros exemplos da imprensa do período, juntamente com os espaços de sociabilidade como escolas, bibliotecas e centros de nacionalidades, indicam a existência de formação dos trabalhadores migrantes em solo brasileiro; eram locais de formação, de discussão, de circulação de ideias, de articulação política e social entre estrangeiros e brasileiros.




[1] “Silvério Fontes fundou o Centro Socialista e organizou sua Biblioteca. Foi Inspetor Literário. Atuou na Sociedade União Operária. Carlos Escobar é o primeiro diretor do primeiro Grupo escolas estadual de Santos, o ‘Cesário Bastos’. Soter de Araújo foi também Inspetor Literário, médico da Sociedade União Operária, sócio fundador da Sociedade Protetora da Infância Desvalida, presidente da Sociedade Auxiliadora da Instrução” (PEREIRA, 1996 p.84)

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