Auguste de Saint Hilaire
Viagem pelas Províncias do
Rio de Janeiro e Minas Gerais. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1938
Viajou
alguns anos pelo Brasil, tendo escrito importantes livros sobre
os costumes e paisagens brasileiros do século XIX. Comenta a "Brasiliana da
Biblioteca Nacional", página 69: " A viagem do botânico Auguste de
Saint-Hilaire ao Brasil foi paradigmática no que diz respeito à forma como os
cientistas da Europa dita civilizada se relacionaram com o Brasil no início do
século XIX. O francês veio para o Brasil em 1816,
acompanhando a missão extraordinária do duque de Luxemburgo, que tinha por
objetivo resolver o conflito que opunha Portugal e França quanto à posse da Guiana. Apesar de ter conseguido fazer parte
da missão graças a suas relações pessoais, Saint-Hilaire obteve a aprovação do Museu
de História Natural de Paris e financiamento do Ministério do
Interior. O naturalista deixou o Brasil em 1822."
Foi
bastante crítico quanto ao reinado do imperador D. Pedro I e no Apêndice de "Voyage dans
le district des diamants et sur le litoral du Brésil" (Paris, 1833).
"Desde os primeiros momentos da revolução (independência),
um bando de homens ignorantes, nutridos dos hábitos do servilismo, foram
chamados bruscamente a participar do governo."
Diz
a "Brasiliana" abaixo referida, página 74: "Apesar de bem
intencionado, o imperador não estava à altura de realizar a tarefa de tirar o
Brasil dos vícios estabelecidos com o sistema colonial e a escravidão.
Saint-Hilaire termina seu rexto depositando suas esperanças no governo de Pedro
II, ainda criança. Sua análise conservadora temia o exemplo dos países
sul-americanos, onde o regime republicano, segundo ele, só trouxera desalento.
Enfim, há nele a idéia de que o Brasil caminha a passos lentos para o estado de
civilização."
Algumas
obras
·
Viagem ao Rio Grande do Sul (1820-1821).
Tradução de Adroaldo Mesquita da Costa. 2ª ed., Porto Alegre: Martins Livreiro,
1987.
·
Segunda viagem ao Rio de Janeiro, a Minas Gerais e a São Paulo (1822).
·
Viagem ao Espírito Santo e Rio Doce.
·
Viagem pelas provincias do Rio de Janeiro e
Minas Gerais.
·
Viagem a Curitiba e Santa Catarina.
·
Viagem pelo distrito dos diamantes e
litoral do Brasil.
·
Segunda viagem ao interior do Brasil,
Espírito Santo.
·
Viagem à província de Santa Catarina, 1820.
·
Viagem à comarca de Curitiba, 1820.
·
Viagem às nascentes do Rio São Francisco
e pela província de Goiás.
·
Viagem à província de São Paulo.
C) Fichamento do livro
Esboça um quadro da
religião na província de Minas.
“Os erros dos ministros da
religião não são a eles inerentes, e é útil fazer conhecer a verdade, porque a
publicidade obriga o culpado a envergonhar-se e incita o homem de bem a
procurar um remédio para os abusos”.
Ele diz não existir um só
convento em Minas Gerais ,
pois foram proibidos pelo governo.
O clero mão possui bens, e
os próprios vigários têm de compra ou alugar as casas onde residem.
Cederam o direito do
dízimo ao governo, que se comprometeu a pagar anualmente aos párocos 200$000,
pois poucas eram as terras cultiváveis na época deste acordo. Hoje o lucro de
governo é muito maior pois há mais terras produzindo.
Muitos cônegos ganham
muito dinheiro sobrando a comunhão.
Antes os curatos eram
preenchidos por concurso, o que contraria a humildade cristã, mas garante a boa
instrução dos pastores. Hoje o governo não mais nomeia os concursados, e os
cargos são preenchidos graças a intrigas e comprados por dinheiro.
A simonia é freqüente e
generalizada, praticamente institucionalizada.
Pelo contrato da concessão
do dízimo o Estado devia reparar os templos, mas nunca o fez.
Não se pensa fundar
estabelecimentos de caridade, hospitais, escolas gratuitas, etc.
O clero brasileiro também
tem autoridade jurídica, além da eclesiástica.
“Tudo o que acabo de dizer
demonstra já superficialmente quais são as deploráveis condições da religião na
diocese de Mariana”.
“Pelos males que acabo de
referir não devem, todavia, ser julgados com muita severidade os atuais membros
do clero de Mariana. Seus erros são as conseqüências das circunstâncias em que
se foi achado sucessivamente o povo brasileiro; o costume acabou familiarizando
a população com os abusos, e talvez que a maioria dos eclesiásticos mal
desconfie do mal que praticam ou de que são cúmplices.”
Os homens que povoaram o
Brasil não tinham senão uma “idéia obscura e incompleta da religião cristã.”
Diz que a superstição e o
desregramento afetaram a religião. Há total desprezo pelos deveres religiosos.
A religião é só externa.
Os freis e padre não são piedosos.
Fora das cidades vestem-se
como pessoas comuns, e seus atos não permitem diferenciá-los de qualquer
pessoa.
“Povo nenhum tem tanta
inclinação como o de Minas Gerais para se tornar religioso, e mesmo, para sê-lo
sem fanatismo”. Em geral os mineiros são muito virtuosamente dotados pela
Providência. “Dê-lhes boas instituições e poder-se-á esperar tudo dessa gente”.
D.P. Kidder e J.C.
Fletcher
O Brasil e os brasileiros
– esboço histórico descritivo. 1º vol. São Paulo, Companhia Editora Nacional,
1941.
B)
Informações sobre os autores
Daniel Parish Kidder
Daniel
Parish Kidder (Darien,
1815
— Evanston, 1891)
foi um missionário norte-americano.
Esteve
no Brasil em duas oportunidades, de 1836 a 1837
e de 1840 a 1842,
em viagem de propaganda evangélica pelo nordeste e pela Amazônia. Em 1842,
com o falecimento de sua esposa, no Rio de Janeiro,
regressou aos Estados Unidos.
Publicou
seus relatos de viagem em “Sketches of Residence and Travel in Brazil”, em 1845.
James Cooley Fletcher
James
Cooley Fletcher (Indianápolis, Indiana, 1823-1901)
foi um pastor e missionário presbiteriano estadunidense.
Filho do banqueiro Calvin Fletcher,
graduou-se na Universidade Brown, em Providence, Rodhe
Island, em 1846, e cursou dois anos de Teologia em Princeton, sendo provavelmente aluno de Charles Hodge. Seus estudos foram concluídos
na Europa com o objetivo de aperfeiçoar seu domínio da língua francesa, visando
um dia tornar-se missionário no Haiti. Nesse período
casou-se com uma filha de Henri Abraham
César Malan , teólogo de Genebra. Retornou aos Estados Unidos em 1850,
ano do nascimento de sua filha Julia
Constance Fletcher.
Por
algum motivo (talvez a simples oportunidade), o Haiti foi deixado de lado no
ano seguinte, quando Fletcher embarcou para o Rio de Janeiro como agente da União
Cristã Americana e Estrangeira e da Sociedade
Americana dos Amigos dos Marinheiros em uma missão que durou até 1854. A União Cristã
Americana trabalhava com a Sociedade Bíblica Americana (da qual Fletcher também foi
agente) e com a Sociedade
Americana de Panfletos (American Tract Society), que apoiou Fletcher
mais tarde.
Entre
1855 e 1856 Fletcher esteve novamente no Brasil, desta vez como agente da União
Americana de Escolas Dominicas, quando viajou quase cinco mil
quilômetros Brasil adentro distribuindo Bíblias, um dos objetivos daquela
organização.
As
experiências e observações colhidas em suas viagens somadas às do pastor e
missionário metodista Daniel Parish Kidder
foram primeiramente publicadas com o titulo O Brasil e os Brasileiros –
Esboço Histórico e Descritivo em 1857, com pelo menos oito edições
posteriores. Em 1862, a
pedido do professor André
Agassiz, Fletcher navegou três mil e duzentos quilômetros pelo Amazonas recolhendo espécimes para estudos dos
peixes locais. O resultado desse trabalho foi a exploração de Agassiz em 1865.
No
Brasil Fletcher tornou-se amigo de muitos membros da alta sociedade, entre eles
vários letrados e políticos liberais. Freqüentou a mansão imperial de Dom Pedro II, de quem tornou-se amigo também.
Atuou como secretário interino da legação norte-americana no Rio de Janeiro,
promoveu uma exposição industrial de produtos norte-americanos na mesma cidade
e, através de seu livro, foi um propagandista dos valores protestantes e
anglo-saxões como instrumentos para o progresso.
C) Fichamento do livro
Apesar de o catolicismo
ser a oficial “pela constituição liberal do país e sentimentos igualmente
liberais dos brasileiros” todas as demais religiões podem ser cultuadas em
particular e em público. A
única restrição PE que seus edifícios não podem ter a aparência exterior de um
templo católico.
A Igreja no Brasil não era
tão influenciada por Roma quanto na Europa.
“Não há nenhum outro país
na América do Sul em que os filantropos e os cristãos tenham campo mais livre
para fazer o bem do que no Brasil”.
Havia liberdade de
pensamento religioso e tolerava-se outras religiões, inclusive o
protestantismo. O autor acha nisso mostras de potencial para o desenvolvimento
do país.
O povo não é muito dado a
confissões.
Se o padre tiver o
espírito ambicioso candidata-se à Câmara dos Deputados.
O número de festas
religiosas é muito grande.
O número de dias Santos é
o mesmo decretado pelo Papa Urbano VIII em 1642, adicionado de um em honra de
cada santo padroeiro de cada província, cidade, vila e paróquia, sobre o qual a
bula de Urbano não falava.
AS festas são pomposas e
anunciadas efusivamente, inclusive nos jornais. Os negociantes também anunciam
seus artigos eclesiásticos.
O público considera com
frivolidade a falta de veneração às coisas sagradas.
As festas são todas
parecidas. Há muitos fogos. As igrejas são adornadas com carinho e dedicação.
Não se usa nenhum óleo
animal nas igrejas, o qua alimenta as lâmpadas é o óleo de oliveira ou coco. Os
círios são feitos de cera vegetal ou de abelha.
O entrudo: Corresponde ao
Carnaval na Itália, estende-se por 3 dias antes da quaresma e é geralmente
considerado pelo povo como uma visível determinação para compensar por meio do
divertimento o longo retiro que irão guardar na Quaresma.
Costuma-se jogar laranjas
e ovos ou bolas de ceras cheias de água, uns nos outros. Todos participam:
mulheres, crianças e adultos, molhando-se todos sem distinção. Tão grandes eram
os excessos que foi proibido por lei.
Procissões: muitas pessoas
participavam, inclusive os escravos que “pareciam muito se divertir, por verem
os senhores empenhados, pelo menos uma vez, em trabalhos pesados”.
Companhias e bandas
militares animavam musicalmente as procissões. “Não há classe quem tome parte
nessa paradas santas com mais zelo do que a gente do povo”. Os negros ficavam
especialmente satisfeitos em ver santos de cor.
Semana Santa: “é tão
modificada pela tradição e pelo excesso de cerimônias, que poucas pessoas podem
fazer idéia do que realmente aconteceu antes da crucificação de Cristo”.
No sábado de Aleluia havia
a malhação de Judas, inclusive participando as crianças e os negros..
Na procissão de Corpus
Christ, é também apresentada a imagem de São Jorge “o defensor do Império”. As
pessoas emprestam suas jóias para ornamentar a imagem.
O próprio imperador
participa da procissão, com a cabeça descoberta, seguido pela corte, cavaleiros
e Câmara Municipal. Os moradores enfeitam o trajeto com tapeçarias e sedas,
pendurados nas janelas das residências.
Cólera e procissões:
durante o surto de cólera o Rio “se converteu num vale de terror”, e rezas e
amuletos foram procurados. As orações eram pregadas sobre a pele das pessoas
como remédios. “a Igreja militante fez uma intimação contra isso, e os jornais
de setembro de 1855 estão cheios de notícias circunstanciadas sobre vários
processos penitenciários”.
“Se nós considerarmos o
Brasil do ponto de vista religioso, ficaremos admirados da soma de ignorância e
superstição que aí domina”.
A)
Ficha Bibliográfica
John Luccock
“Notas sobre o Rio de
Janeiro e partes meridionais do Brasil tomadas durante uma estada de dez anos
nesse país, de 1808 a
1818” .
São Paulo, Livraria Martins Fontes, 1940.
B)
Informações sobre o autor
John Luccock foi um
comerciante, que chegou ao Brasil em 1808 vindo de Portugal e voltou para sua
terra natal, a Inglaterra, dez anos depois, em 1818.
Ele possuía uma capacidade
acurada de observação que lhe permitiu redigir, anos depois, um livro sobre o
país que se constitui hoje em preciso documento sobre diversos aspectos da
sociedade de então.
O nome do relato sobre o
tempo que passou em nosso país, é chamado de: Notas sobre o Rio de Janeiro e partes meridionais do Brasil .
C)Fichamento
Em seu texto de John Luccock
procura mais ser mais descritivo e julgar menos, ainda que não deixe de
manifestar sua opinião em certos momentos.
Num primeiro momento o
viajante explica qual o seu ponto de vista sobre as instituições religiosas do
nosso país: “Os edifício públicos das grandes cidades da Europa, em muitos
casos, emprestaram aos do Rio seus nomes e finalidades, comunicando-lhes,
porém, pouca coisa além disso”. “Acontece com as instituições públicas algo
muito semelhante; não passam, no geral, de arremedos pifiamente falhos dos
originais que pretendem imitar”.
Num segundo momento o
autor passa a descrever os edifício religiosos, referindo-se, por exemplo: à
principal igreja do Rio que era a Catedral de São Sebastião, uma construção
muito simples e rústica, sem ornamentos. Existem quatro igrejas paroquiais no
Rio de Janeiro, sendo a mais antiga a de São José. É lá onde há mais batizados.
“Fiquei admirado de ver
criancinhas completamente nuas” sendo batizadas. Isto mostra que os costumes
religiosos no Brasil diferenciavam-se dos europeus.
A seguir Luccock descreve
um funeral de adultos, dizendo que o corpo é levado em uma espécie de liteira
aberta, coberta de um veludo preto.
Diz que a procissão que
acompanha o morto, não o leva em passo lento e solene em perfeita procissão,
“mas sim numa pressa indecente, uma espécie quase de corrida, em meio de alto
vozerio e com uma grosseira alegria”.
Diante da igreja o defunto
fica exposto ao público. “Parece-me costume excelente essa exposição do corpo,
num país em que o assassínio é tão comum”. Isto porque “é certo que torna mais
difícil esconder um assassínio”.
Depois dos rituais
realizados pelos padres, as pessoas responsáveis despojam o morto de seus
ornamentos e “atiram-no na sepultura”, “jogam uma certa quantidade de cal
virgem, põem a terra e socam tudo com grandes pilões de madeira. Pareceu-me
esta última prática mais desumana e chocante do que quantas presenciei num
enterro, levando-me até a pensar que não ficava muito aquém do próprio
canibalismo”.
Mesmo assim, o viajante
diz que “a gente mais pobre, ou pelo menos os pretos, é tratada com muito menos
cerimônia” nos ritos funerários.
Com relação ás procissões
o autor nos fala que aconteciam com muita freqüência “por motivos frívolos
demais e vão de tal modo acompanhadas por bandas de garotos barulhentos, que
não são respeitáveis nem impressionantes”.
As obras sociais erma
custeadas apenas com a ajuda dos fiéis, que segundo Luccock não eram poucas “só
se vêem moedas de cobre na bandeja”. Porém havia também os beneméritos, os que
doam em agradecimento a graças alcançadas e os que fazem promessas.
Os padres gastam “os
fundos arrecadados com a máxima fidelidade”.
O que demonstra certo zelo e boa intenção da parte do clero brasileiro,
ao contrário do relatado por outros viajantes que descrevem parte dos padres
como relapsos.
Em várias casas e esquinas
eram encontradas nichos com imagens dos santos. Vemos com isso que parte da
população, ao contrário do que certas práticas acima descritas podem fazer
pensar, tem um sentimento religioso forte e intenso.
3-
Bibliografia
SAINT HILAIRE, Auguste de.
Viagem pelas Províncias do Rio de Janeiro
e Minas Gerais. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1938
KIDDER, D.P. e FLETCHER,
J.C. O Brasil e os brasileiros – esboço
histórico descritivo. 1º vol. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1941.
LUCCOCK, John. Notas sobre o Rio de Janeiro e partes
meridionais do Brasil tomadas durante uma estada de dez anos nesse país, de 1808 a 1818. São Paulo,
Livraria Martins Fontes, 1940.
Wikipédia a Enciclopédia
livre: http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A1gina_principal
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