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Principais contribuições de Herbart à Pedagogia

Esse autor, considerado um dos grandes teóricos da Escola Tradicional, e fundador da pedagogia como uma disciplina acadêmica, foi um dos primeiros a criar uma sistematização pedagógica, sendo considerado o criador da Ciência da Educação. Pode ser tributado a ele, ainda a utilização da psicologia experimental aplicada à pedagogia.
Segundo Herbart a vida psíquica é constituída essencialmente pelo jogo das representações, que são somente modificações dos sentimentos e dos desejos. A educação é a virtude que consiste na harmonia entre a vontade e as ideias éticas. A esse fim está subordinado o ensino, o qual influi as representações e, com elas inclui toda a vida psíquica. O ensino é sempre educativo.
Esse autor foi um dos percursores da Ciência da Educação por entender que a pedagogia deveria articular-se como um sistema de conhecimento próprio, com o auxílio de outras áreas do conhecimento
Herbart propôs que a pedagogia se caracterizasse não apenas como arte, mas como ciência da educação. Para tanto necessitaria da ética, filosofia prática que fornecesse os fins, e da psicologia que mostra o caminho e os obstáculos para a instrução educativa. Para ele a finalidade da educação reside na formação da moralidade, do caráter e da vontade, como referências para o autogoverno do indivíduo a fim de agir corretamente. (FREITAS & ZANATTA, 2006, p. 9)
A principal ideia da pedagogia herbartiana é a “instrução educativa”. Para ele educação preocupa-se em formar o caráter e aprimorar o ser humano e instrução veicula uma representação do mundo, transmite conhecimentos novos, aperfeiçoa aptidões preexistentes e faz despontar capacidades úteis. Para ela a instrução pode conduzir á educação.
Para Herbart o objetivo da educação é a moralidade. O fim da educação e da instrução é a formação de um homem de cultura, que por conta de um senso estético, é obrigado a lutar pela obtenção dos mais altos ideais éticos.
Uma vez que a moralidade tem, segundo uma compreensão exata, a sua sede exclusivamente na vontade própria, compreende-se sem mais, que a educação moral tem de produzir, não determinada exteriorização de ações mas sim, a compreensão, juntamente com a respectiva vontade, na alma do educando. Pondo de lado as dificuldades metafísicas associadas a este produzir. Quem souber educar, esquece-as. Quem não souber transpor, precisará, antes da pedagogia, de uma metafísica, mostrando-lhe o resultado das suas especulações se pode ou não pensar em educação. (Herbart 2003, p. 48-49)
A instrução tem como objetivo permitir com que o aluno compreenda o mundo e os homens. Essa compreensão do mundo não serve apenas á transmissão de conhecimentos, mas está a serviço da “tomada de consciência moral’ e do “reforço do caráter”.
Para que a criança consiga internalizar a disciplina ela precisa de um governo externo, exercido por meio de um mestre (professor). O professor assume a autoridade, e por meio de ritos e rotinas os alunos são instruídos e educados.
Segundo ele, a ação pedagógica se orienta por três procedimentos: o governo, a disciplina e a instrução.
     O governo é a forma de controle da agitação da criança, inicialmente exercido pelos pais e depois pelos mestres, com a finalidade de submeter a criança às regras do mundo adulto e viabilizar o início da instrução. A disciplina é a responsável por manter firme a vontade educada, no caminho e propósito da virtude, supondo autodeterminação, que é uma característica do amadurecimento moral levando para a formação do caráter que está sendo proposta, ao contrário do governo, que é heterônomo e exterior, mais adequado ao trato com as crianças pequenas. A instrução é o principal procedimento da educação e pressupõe o desenvolvimento dos interesses.
Governo, ou o controle externo, e Disciplina, ou controle interno, concorrem para assegurar a Instrução. É clara a preocupação de Herbart com a questão da disciplina, para ele fundamental no processo de formação intelectual do aluno:
Um governo que se satisfaça sem educar, destrói a alma, e uma educação que não se ocupe da desordem das crianças, não conheceria as próprias crianças. De resto, não se pode dar uma única aula em que se possa abdicar de todas as rédeas do governo, quer seja e mãos firmes ou brandas. Se, por fim, tiver que se repartir entre o verdadeiro educador e os pais tudo o que faça parte da educação das crianças, então terá de se fazer um esforço no sentido de se organizarem devidamente e ambos os lados as relações, que se apoiem reciprocamente (HERNART, 2003, p. 30)
O interesse determina quais as ideias e experiências que receberão atenção por parte do indivíduo. Herbart não separa a instrução intelectual da instrução moral, pois para ele, uma é condição da outra. Para que a educação seja bem sucedida é conveniente que sejam estimulados o surgimento de múltiplos interesses.
A base da doutrina pedagógica de Herbart, baseada na experiência e na reflexão filosófica é a ideia da Instrução Educativa. A Instrução educativa baseia-se na curiosidade do aluno, ou seja, no interesse e conhecimentos prévios, nas experiências anteriores. A finalidade da instrução é simplesmente completar, aperfeiçoar esta bagagem preexistente. Isso pode se dar por meio de ensino descritivo, mas também pode dissecar o que já foi aprendido e através dos elementos dados elaborar novos conjuntos conceituais.
Para Herbart há duas vias convergentes de reflexão pedagógica: Analítico, cujo ponto de partida é a experiência e as experimentações pessoais; e Sintético, que parte de um sistema filosófico predefinido.
O interesse cria as primeiras ligações entre o sujeito e o objeto.  O interesse se forma assim que o sujeito apreende uma “multiplicidade” de objetos em profundidade e liga os traços que esses aprofundamentos deixaram em sua memória.
A orientação didática de Herbart estabelece passos formais que podem ser articulados em dois momentos principais: Concentração (clareza e associação) e Reflexão (sistema e método). Os herbartianos, discípulos que seguiram e desenvolveram o pensamento pedagógico de Herbart, subdividem os passos formais. De acordo com Larroyo esses dois passos se subdividem em 5 passos formais que favorecem o desenvolvimento da aprendizagem do aluno:
Primeiramente deve-se dar atenção à preparação, momento no qual o mestre recorda o que a criança já sabe para que o aluno traga ao nível da consciência a massa de ideias necessárias para criar interesse pelos novos conteúdos; O passo seguinte é o da apresentação, quando a partir do concreto, o conhecimento novo é apresentado; a assimilação vem a seguir, no momento em que aluno é capaz de comparar o novo com o velho, distinguindo semelhanças e diferenças; em seguida há a generalização, momento no qual além das experiências concretas, o aluno é capaz de abstrair, chegando a conceitos gerais, sendo que esse passo deve predominar na adolescência; por fim segue a aplicação quando através de exercícios, o aluno evidencia que sabe usar e aplicar aquilo que aprendeu em novos exemplos e exercícios. É deste modo, e somente deste modo, que a massa de ideias passa a ter um sentido vital, perdendo o aspecto de acumulação de informações inúteis para o indivíduo.
Podemos exemplificar esse “Passos Formais”, com uma aula sobre os Planetas: preparação: questionar o aluno sobre qual sua noção do que seriam planetas; apresentação: observar num planisfério celeste o movimento de algum planeta, por exemplo Vênus; assimilação: comparar Vênus com outros planetas; generalização: caracterizar, em geral. Essa espécie de astros chamados de planetas – definição de planeta; e a aplicação: estabelecer uma comparação entre planetas e outras classes de astros, formular e resolver problemas astronômicos, etc.
Palavras finais
A pedagogia de Herbart tem como principais interlocutores Pestalozzi e Dewey, este seu principal crítico. Abaixo segue uma tabela que expõe as principais semelhanças e diferenças nos pontos essenciais do pensamento pedagógico desses autores:
PRESSUPOSTOS
PESTALOZZI
HERBART
DEWEY
Finalidade da educação: cultivo da mente, do sentimento e do caráter
Centro: professor
Ensino: promoção da percepção das coisas, dos objetos naturais, por meio do contato direto e da intuição
Conhecimento: organização das percepções sensoriais obtidas na relação com as coisas
Aprender: processo espontâneo, atividade livre
O mundo é a natureza; deve ser percebida e, desse modo, conhecida
Finalidade da educação: formar o cidadão do futuro
Centro: professor
Ensino: predeterminado
Generalização - é retrospectiva, visa ilustrar o conteúdo
O novo, é novo apenas para o aluno
Não distingue conhecimento e informação
Aprender: desvendar a verdade; conceituar; definir e classificar.
O mundo é um sistema consumado, não há novidade e sim desconhecimento, ignorância
Finalidade da educação: mais educação
Centro: aluno, o professor guia
Ensino: descoberta que ocorre ao final
Hipótese – é prospectiva e visa por o conteúdo à prova
O novo pode ser novo também para o professor
Antes da aprendizagem há apenas informação; a ação dos alunos sobre ela a transforma em conhecimento
Aprender: reconstruir a experiência identificando o melhor modo de aprender
O mundo é um sistema aberto, indeterminado, passível de novidade genuína
MÉTODO DE ENSINO
PESTALOZZI
HERBART
DEWEY
1. Do conhecido ao desconhecido, do concreto ao abstrato, do particular ao geral, da visão intuitiva à compreensão geral
2. Promover a associação entre os elementos das coisas, dos objetos
2. Fazer com que cada aluno reúna, organize num todo os pontos de vista alcançados
1. Preparação: recordação, pelo professor, de algo já sabido
2. Apresentação: o professor apresenta a nova matéria
3. Assimilação: comparação com a matéria antiga
4. Generalização: apresentação, pelo professor, de exemplos, casos semelhantes
5. Aplicação: aplicação do aprendido por meio de tarefas
1. Atividade: utilização de algo que a criança já tem interesse em fazer
2. Problema: os alunos identificam problemas que requerem certo conhecimento para serem resolvidos
3. Dados: busca de informações que permitam prosseguir
4. Hipótese: com os dados os alunos fazem previsão de resultados
5. Experimentação: teste da hipótese e confirmação ou não do previsto
(Fonte: FREITAS & ZANATTA, 2006, p. 9)
Uma das principais críticas feitas pela pedagogia moderna, contemporânea, em oposição à chamada pedagogia Tradicional de Herbart, é que esta tornou o aluno sujeito do ensino e substituiu o individualismo próprio da pedagogia do século XVIII.
Esqueceu-se que a instrução educativa tinha a experiência do aluno como função central e o interesse os aluno, traço de sua atividade mental própria, não apenas como fim, mas como o meio mais importante da instrução educativa.(HILGENHEGER, 2010, p. 32)
Diante da análise de textos de Herbart podemos ver que, ainda que ele reforce o papel do professor como agente do processo de aprendizagem, responsável por despertar o interesse dos alunos, teve uma preocupação em estudar a forma como o aluno processava o conhecimento, através de seus passos formais, valorizando a psicologia como importante para auxiliar a aprendizagem.

Penso que seria muito importante a revisita a textos de Herbart, tanto para entender as teorias de seus opositores, quanto para compreender melhor como realmente ele pensava a questão da instrução e educação, contribuindo assim para o debate historiográfico e pedagógico, especialmente do rico período dos séculos XIX e XX.

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