Importante para a história da República em Santos, foi o ano
de 1894 de instituição da Constituição Política da cidade. A promulgação desta
Carta Política marca uma forma diferente de pensar a república, liberta das
antigas influências monarquistas, e com maior intenção de liberdade e autonomia
municipal.
Essa forma diferente de encarar o novo regime pode ser
interpretada a partir da trajetória dos sujeitos signatários desta Lei.
Algo a ser destacado é o fato de que
até então os membros da Câmara e Intendência santista eram nomeados pelo
Presidente do Estado e, por isso se alinhavam aos interesses deste na cidade; e
os vereadores que assinaram a Carta Magna Santista foram os primeiros a serem
eleitos pelo povo no regime republicano, e por anos vinham fazendo oposição aos
governantes da cidade.
Segundo a lista de assinaturas que
segue à Constituição Política de Santos, foram signatários da Lei Magna
santista:
Antônio Manuel Fernandes, José André
do Sacramento Macuco, José Caetano Munhoz, Alexandre José de Melo Júnior,
Alberto Veiga, João Braz de Azevedo, Antônio Vieira de Figueiredo e Augusto
Filgueira. Outras pessoas que merecem ser nomeadas são o advogado Vicente de
Carvalho, autor do texto da constituição e o vereador Olímpio Lima.
captar a ambiência sócio-político-cultural da cidade, para
então mapear a dinâmica de articulação de seus vários grupos de intelectuais,
reunidos em lugares de sociabilidade,
onde ocorria um debate de idéias, aqui entendidas como indissociáveis de formas
de intervenção na sociedade. Ou seja, a reflexão está situada na interseção da
história política e cultural, que é sempre social, assumindo uma vertente
teórico-metodológica que, na França, vem recebendo a designação de história de intelectuais (GOMES, 2004, p. 80)
Essa
visão do ambiente da cidade, de seus atores, idéias, suas transformações,
problemas e projetos, não se trata “apenas” de contextualização histórica, como
ensina Ângela de Castro Gomes
mas do reconhecimento da
existência de um campo intelectual com vinculações amplas, mas com uma
autonomia relativa”, que pode ser compreendida a partir de uma pesquisa “que
acompanhasse as trajetórias de indivíduos e grupos; que caracterizasse seus
esforços de reunião e de demarcação de identidades; e que associasse
determinados momentos e eventos às características-projetos de sua produção
intelectual. (GOMES, 2004, p. 81).
O
que isso quer dizer é que a Constituição municipal de Santos não nasceu “do
nada”, mas a partir da contribuição de seus mentores, do ambiente político no
qual viviam, das idéias que defendiam, dos intelectuais que a influenciaram,
dos problemas que enfrentavam e, principalmente, das respostas que traziam para
solução desses problemas.
E
eram várias as preocupações desses sujeitos. Entre eles havia participantes
ativos dos movimentos abolicionista e republicano, como Sacramento Macuco,
Antônio Manuel Fernandes, Vicente de Carvalho e Manuel Maria Tourinho. Alguns
destes defenderam uma concepção de república que se opunha a oficial, como
Manuel Maria Tourinho, que chegou a ser preso durante o estado de sítio
decretado com a Revolta da Armada.
A
imprensa teve Importante papel na circulação dessas idéias.
A repercussão que teve o movimento abolicionista e
republicano em Santos, e, depois dele, a importância que tiveram os movimentos
operários, devem-se, em larga medida, ao vigor do jornalismo e da imprensa na
cidade, que estimularam e potencializaram a circulação de novas idéias.(ALVES,
2008, p. 16)
Esses
ideais eram divulgados e defendidos na imprensa por, por exemplo, Antônio
Manuel Fernandes, fundador do jornal “O
Pyrilampo” com Sacramento Macuco, e ainda O Raio, O Popular, e que colaborou no
Diário da Manhã com Vicente de Carvalho. (RODRIGUES, 1979, p. 29)
Alberto
Veiga foi um esses jornalistas combativos que atuou na imprensa santista:
Alberto Veiga chegou a Santos no ano de 1891 e ingressou no
corpo redatorial do decano da imprensa santista – “Diário de Santos” – onde de
parte as questões puramente locais, ou de política regional, se bateu pelos
grandes princípios, concernentes à ordem social, à liberdade humana e à
evolução dos espíritos para o aperfeiçoamento constante, e por isso seu
concurso jamais negado a todas as obras úteis, e todas as idéias sãs, a todos
os impulsos de caridade e de justiça. Pouco tempo depois estava ao lado do
grande jornalista Olímpio Lima, quando este fundou em março de 1894 a “Tribuna
do Povo”. (PRATES, 2008 p.2)
A “Tribuna do Povo”, de Olímpio Lima, também foi um
importante meio de defesa e divulgação das idéias desse grupo. A oposição que
faziam e a critica à política da situação, tanto a nível municipal quanto
estadual, era motivo de revolta dos que se sentiam atingidos com os artigos e
denúncias, e em resposta promoviam agressões aos articulistas e depredações à
redação do jornal. (RODRIGUES, 1979, p. 71).
O ataque mais violento ocorreu em agosto de 1895, na estação
ferroviária do Largo Marquês de Monte Alegre, local onde os líderes da
sociedade da época costumavam se reunir. Olímpio Lima sofreu um atentado
executado pelo major José Emílio Ribeiro Campos[1]
Júnior, que atirou três vezes contra o jornalista, acertando-o no baixo ventre,
e deixando feridos ainda, uma criança e um animal. Olímpio Lima foi
hospitalizado, o major afastado e um delegado pediu demissão (SILVA, 2005, p.
108)
Outro ponto importante para entender a questão é o fato de
que os Constituintes Santista, especialmente por meio da Tribuna do Povo, faziam dura oposição a Bernardino de Campos, então
presidente do Estado, e, por meios de seus aliados santistas, sofriam as
conseqüências dessa posição política:
[...] o empastelamento da tipografia do jornal santista A
Tribuna do Povo, segundo uma das testemunhas do ocorrido, “cheirava a
Quintino”. Em 1893, na já citada Revolta da Armada, lá estava Quintino com seus
negros para, a mando de Bernardino de Campos, defender a cidade. (MACHADO, 2007
p. 277)
Na época da elaboração da Constituição Municipal estavam se
firmando os ideais republicanos, e a teoria estava sendo checada na prática. No
entanto, “mais importante que a circulação de idéias talvez tenha sido a nova
atitude dos intelectuais em relação à política” (CARVALHO, 1987, p. 25), pois
os ideais que moviam essas pessoas influenciaram sua atuação social e política.
[1] O
major José Emílio Ribeiro de Campos é o mesmo que pediu a anulação da
Constituição Municipal criada pro vereadores aliados de Olímpio Lima, como
Manuel Maria Tourinho, seu amigo pessoal e Alberto Veiga que também escrevia na
Tribuna do Povo.
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