Até os primeiros anos do século XX a cidade de Santos limitava-se ao
atual Centro. A expansão urbana e a modernização da cidade só terão maior
impulso após o início da construção dos canais em 1907 e a incrementação do já
movimentado porto com o crescimento das exportações do café.
Apesar do grande movimento do comércio
do café, a cidade ainda não possuía a infra-estrutura para comportar
suficientemente as novas demandas. Por causa também das péssimas condições
ambientais da cidade Santos freqüentemente era vítima de severas epidemias de
febre amarela, malária e varíola.
A soma das más condições ambientais,
terrenos alagadiços que não permitiam o escoamento da água e dos esgotos, o
lixo produzido pelo grande número de habitantes que viviam em cortiços na
pequena região da cidade e os detritos produzidos pelos animais de carga que
serviam os armazéns, trazendo e levando produtos do porto, era ideal para a
proliferação de doenças e dificultava seu tratamento.
Por esse motivo, o Porto de Santos
passou a ser conhecido como “porto maldito”, o que acabou por fazer com que as
companhias armadoras começassem a evitar esse destino, atrapalhando as
exportações, o comércio local e dos grandes produtores de café.
Os comerciantes da cidade, as casas
comissárias e os fazendeiros do café tomaram a frente na reivindicação de
melhores condições sanitárias. Nesse sentido é fundamental a participação da
Associação Comercial de Santos, fundada em 1870, que chega a pedir ajuda
diretamente ao Presidente do Estado:
[...] Atendendo aos perigos que nos ameaçam as péssimas
condições higiênicas de Santos, a Praça Comercial resolveu representar a
Presidência da Província no sentido de pedir que sejam tomadas imediatas
providências com relação ao saneamento da cidade. A Associação Comercial
entendeu perfeitamente, em nossa opinião, que a primeira providência a tomar é
a nomeação imediata de uma comissão higiênica que apresentará um sistema
definitivo de saneamento da cidade. Nesse sentido vai ser feita a representação
para cuja redação foram nomeados os sócios Antônio Carlos da Silva Teles, Fritz
Christ e Dr. Vicente de Carvalho. (Jornal Diário de Santos de 9 de maio de
1889)
A Companhia Docas de Santos,
concessionária para a construção do cais e a administração do porto, iniciou as
obras que visavam substituir as pontes e trapiches, até então responsáveis pela
movimentação portuária, por um cais onde os navios pudessem atracar. A Companhia
também ficou encarregada de providenciar a infra-estrutura necessária para
atender a crescente demanda do movimento portuário.
As transformações ocorridas na cidade
de Santos no período, como todas as mudanças culturais, não se deram sem
tensões, conflitos, rupturas e continuidades.
Como exemplo de conflitos, podemos
citar o ocorrido entre a Cia Docas e os trapicheiros. A empresa passa a
controlar a exploração da movimentação portuária, o acesso ao cais, contratação
de trabalhadores, embarque e desembarque das mercadorias etc. e os comerciantes
locais, que controlavam os trapiches, ficaram excluídos do protagonismo da
exploração portuária tendo que sujeitar-se ao interesses da Docas.
É freqüente a insistência dos
comerciantes locais nos pedidos de licença para a Câmara com o fim de construir
pontes e trapiches, geralmente autorizados sob a alegação de que as obras do
cais ainda estavam longe dos locais pretendidos.[1]
A Cia. Docas tinha o apoio das duas
esferas do governo: federal e estadual. Diante de tais confrontos, a Cia. Docas
recorreu ao Governo Federal, alegando a concessão lhe daria o direito ao
monopólio portuário e conseguiu a demolição dos trapiches. Após, o Governo
Estadual concedeu às Docas também o monopólio da Alfândega santista.
Os grupos locais acabaram por ficar de
fora do controle do comércio cafeeiro, principal produto de exportação do Porto
de Santos. Mais tarde com a construção
da amurada do cais, até mesmo o acesso de terceiros ao cais do porto passou a
ser controlado pela Cia. Docas.
Os conflitos entre Docas e
comerciantes santistas só chegou ao fim com o início das greves operárias, em
1891, quando unem suas forças contra a paralisação dos trabalhadores do porto.
A Cia Docas aproveitou-se dos ex-escravos do Quilombo do Jabaquara, que eram
apadrinhados pela elite comercial da cidade, utilizando-os para o trabalho nas
pedreiras que serviam as obras do cais do porto, “furando” a greve (MACHADO,
2007, p. 276).
Outro fato a ser apontado no período é
o grande aumento populacional, influenciado pelo aumento de estrangeiros atraídos
pela movimentação portuária
Com o crescimento da movimentação do
porto, muitos brasileiros e imigrantes estrangeiros dirigiram-se a Santos em
busca de trabalho[2]. O Censo de 1913 apontava que a população estrangeira
era de 45% e a nacional de 55%. Entre os estrangeiros, cerca de 63% eram do
sexo masculino, e nota que segundo os censos europeus o número de mulheres
nessas localidades superava muito o de homens devidos aos fluxos emigratórios. (Cf.CENSO
de 1913 p. 116 a 127)
Temos assim uma modificação dos tipos
da cidade. Com os imigrantes estrangeiros vieram suas idéias, e modos de vida.
A cidade teve um aumento populacional, novas profissões surgiram, a composição
cultural dos habitantes da cidade mudou e com isso novos modos de ver a vida na
cidade e de resolver os problemas que apareciam.
Foi quando, face as mudanças causadas
pelo aumento populacional, o crescimento econômico e as transformações
culturais, novos modos de ser e estar na cidade substituíram os antigos.
[1] No ano
de 1892 há pelo menos 11 pedidos para construção de trapiches. Cf. Fundo
Intendencia Municipal de Santos
[2]
A importância dos estrangeiros é notada quando
vemos na página 144 do recenseamento que no total de 38730 trabalhadores os
portugueses eram 14985, e entre os 9161 empregados no comércio 1300 são
portugueses.
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